REPERCUTE PESQUISA NA VILA LUIZÃO, É ESTARRECEDORA. AGORA VEJA 11 ENTREVISTAS DOS PESQUISADORES COM MEMBROS DA FACÇÃO BONDE DOS 40.

Este blog divulgou com a exclusividade a pesquisa (VEJA A PESQUISA NA ÍNTEGRA...).

A pesquisa já atingiu 77 mil leituras na internet e 1.850 curtidas no Facebook.

Dentre as 760 famílias entrevistadas, 95% delas tinham um parente  que é membro ou simpatizante de alguma facção criminosa dentro do bairro pesquisado ou em outros dentro da ilha de São Luís e nas cidades de Caxias, Pinheiro, Timon, Bacabal e Codó.

Veja as entrevistas com membros do bonde dos 40:

1ª Entrevista

- Meu nome é .................... tenho 14 anos.

O que faço? Moço vivo aqui pedindo esmola de quem passa. Mas de vez em quando, tomo mesmo, sou ladrão. Não me dão, eu pego, tomo. Seje o que for, eu tomo, sou ligado a um grupo pq ou vc é de um ou de outro, ou eles te mata. Reloge, puseira, celular. Não peba esse eu não pego porque não adianta, não dá dinheiro. e eu quero prá comprar comida, e também pedra.

Se eu fumo? Mas, é lógico que sim. Sou viciado moço, fumo pedra. Não nego. Até porque dá prá ver né. KKKKK...É eu sei... Gosta do meu cheiro?...kkkk...eu também não...Pois é, nóis tem que fumar, cheirar. Sabe por quê? Por causo da fome e da raiva dos policia que já me bateram muito. Meu pai não sei quem é, e minha mãe é mais dida que eu. Ah! moço fome dói viu. E prá passar a fome nóis tem que fumar. dormir. Se eu já fui preso alguma vez? Sim, Hum, bocado de vez. Mas você sabe, tem uns home que se nóis pagar e fize o que lês quiser, ele facilita prá nóis. E meus colega ajudamo demais os home, principalmente uns dois que pede prá nóis contá umas coisas. A gente as vez até inventa. Prá que eles nos de algo. Kkkk... os inimigo do nosso grupo nóis coloca em fria. A gente é olheiro, x-9. A gente é preso mas logo solto quando nóis dedura os outro. Mas quando vem uns aí que não conhece nóis , a coisa é ruim, a gente tem que se escondê. Aí os de outro grupo se vinga de nóis. É isso moço. Aqui a gente tem que ser esperto.

Quer saber mais? Não. Então tá. Tou indo. Mas me dê um trocado. Anda. tá bom. Só isso? Poxa mar é pouco. Mas tá bem.

2ª Entrevista

- Meu nome? Prá que tu qué saber?

Vai me dedurar? Não? Bom, eu conto.

Meu nome é .................... tenho 16 anos. Eu não tenho mãe, vivo com uma avó. É, ela já tá veia, caduca, veve deitada numa rede, ou sentada num cadeira veia de macarrão. Hum, ela não entende nada do que se fala prá ela. Ela é a única pessoa que tenho. Eu cuido dela.

Bom, prá levar comida prá ela e prá mim, claro, eu faço tudo. De vez em quando arranjo um seuviço de capina, de lavar carro, de vender bombom, laranja, e aí tu me pregunta se só vendo isso. Não. Não vendo só isso. É muito pouco que consigo. Sabe, minha avó tem que tomá remedo e aí eu tenho que me virar. E aí tens home que vem aqui, gente de dinheiro, que procura cigarro de maconha, crack e outras aí que nem o nome sei dizer. Eu procuro um “amigo” e ele me passa, eu vendo pros home, e sempre sobra uns trocado. Já ajuda.

Não, não tenho medo dos poliça. Os que vem aqui também gostam de droga. Eles são nossos chapa.

O que senhô! Eles? Não, eles não fazem nada com nóis. Eles nos protegem. Quando vem algum outro poliça eles conversa e todo mundo fica numa boa. O chefe daqui é amigão deles. Agora, a nossa gang é mais forte. Tem uma aí que é nossa rival e aí nóis dedura eles pros poliça e eles nos ajuda a acabar com eles. Tudo que acontece de ruim eles que são acusado. Kkk...Tu sabe que até celular a gente consegue mandar pros nossos que tão na cadeia? É, nóis tem gente que são assim com os home de lá de dentro. Eles ganham um dinheiro da gota serena... Bom, eu acho que já disse muito prá ti...tá bom de terminar a cunversa...já tem gente vindo e eles pode pensar que tou falando alguma coisa de nóis .

Me passa um trocado. Anda. Vai. Se não eu digo que tu tá querendo me forçar a fazer sexo contigo....Tá vai.

3ª Entrevista

- Pra que tu me chamou moço?

Quer o que ? Ah! Quer que eu te conte minha história? Vou ganhar o que com isso?

É, eu não dou nada de graça. Sabe que tenho 16 anos, mas sou como diz minha mãe, macaco velho...kkk, minha mãe diz isso. Ela diz que o único que trabaia de graça é reloge. Ela diz que quando arguem quise algo de nois , nós tem que dar o preço, tem que pagar. É, minha mãe sabe das coisa. Ela me falou que meu pai é um bacana que estrupou ela um dia que ela foi tentar trabaiar em casa de famia. Ela disse que a muie do cara quando soube jogou a minha mãe na rua. E o sujeito que ela diz que é meu pai nunca foi atrás dela prá perguntar se ela tava bem, se eu tinha nascido, nada...Ela ainda viu o sujeito umas duas vez. Eu nem ligo. Odeio ele. Ele que é culpado de minha mãe viver assim, De um e de outro. Ela pega cada um! Já ficou doente um bocado de tempo. Aí fui eu que tive que procurar alguém prá fazer sexo. E o pior é que gostei. Mas foi só no cumeço. Depois não.

Eu já tive com homem que só quer olhar, outros que bate em nós. Não dá um beijo. Nada. São pior que os animal. Bom, mas eu tenho que levar dinheiro prá casa. Mamãe é viciada em maconha. Ela todo dia tem que fumar... Eu já experimentei, mas não gostei. Prefiro beber. Conhaque. Junto dinheiro as vez só prá cumprar uma garrafa. É, eu esqueço esta vida. Das vez que já passei na prisão. Lá, conheci gente de tudo quanto é tipo. Lá tive que ter sexo com um brutamontes, que me fez eu virar de cabeça prá baixo, quase me mata. Moço, se eu te contar o que já fizeram comigo, vai dizer que tou mentindo.e não tou. Esse povo de farda não vale nada. Eles se acha. Eles quando invadem nossas casas quebram tudo. Eles nos xingam, dá tapa, puxão de orelha, dá telefone, beliscão, pegam cigarro aceso e nos queimam...É, eu odeio eles. Tem um aí que quando pega na gente, só faz coisa ruim, diz que preto não presta, que nós tudo samos ladrão, gente que não presta. E olha que ele é moreno claro. Acho que ele tem raiva de ser preto.

Bom, eu tou cansado...Vou me embora, vorta depois, a gente se senta e eu te conto mais.
Fui com tua cara. Me dá um trocado aí prá eu comprar uma merenda. Não, não vou comprar droga. Agora tou com fome, de verdade. Obrigada!.

4ª Entrevista
- Oi! Você quer saber o que? Hum...sabe, eu não gosto de falar de mim...Ainda não me acostumei com esta vida.

É, eu estudei um pouco senhor. Tenho 17 anos.

Não, eu não tenho pai e nem mãe. Morreram de bala perdida numa vez que a polícia entrou no bairro da gente atrás de uns meninos, que tinham roubado ou fugida da prisão. Não sei direito, ouvi tantas histórias. O que sei foi que meus pais morreram, e eu com 15 anos me vi responsável por 3 crianças, meus irmãos, um de 10 anos, outro 8 e o mais novinho de 6 anos.

Assim, procurei trabalhar, lavar roupa dos meus vizinhos, ensinar particular criança, preparar lição de casa. No começo, foi difícil, as pessoas não acreditavam que eu queria levar a sério os trabalhos. Com o tempo passaram a acreditar. Mas meus vizinhos são pobres como eu, E aí chegou um momento, que o dinheiro que me davam, não era suficiente, assim, fui atrás de trabalho em casa de família. Lá encontrei uma casa, mas queriam que eu dormisse, não dava. E meus irmãos? Porque enquanto eu trabalhava, eu pedia prá duas amigas minhas tomarem conta dos meus irmãos.

Assim, tudo virou. Eu não dei conta da responsabilidade. Meus irmãos tiveram que vir prá rua pedir esmolas, eu tive que me prostituir.

Me perdoe moço por chorar...Mas é que eu choro não é por mim, é por meus irmãos...Eles ainda pedem esmolas...Eu tenho medo que acabem todos como eu, sendo prostitutos, tendo que passar por humilhações...Vivem sujos hoje em dia, não tenho mais tempo de cuidar deles, eles não me ouvem mais, tão se tornando preguiçosos, mentirosos, e já foram pegos roubando...Como são ainda de menor, são logo soltos...Mas eles não tão nem aí...Já tem na cabeça que se eles não conseguem as coisas por bem, eles levam por mal... E eu, temo pela vida deles...

É isso! Desculpe, mas eu não tenho mais tempo prá lhe falar mais nada. Obrigada por me fazer contar minha historia. Você foi a 1ª pessoa que sentou e conversou comigo. Que quis saber quem sou.
Até...

5ª Entrevista
- Não vou falar prá ti minha vida moço.

Por que? Ora, prá que tu quer saber? O que vai me adiantar que vivo na rua porque meu pai é um home safado, ladrão, que faz da gente tudo que quer, que vai nas rede e cama da gente prá bolir com a gente, que a mãe da gente faz de conta que não sabe, porque tem medo dele. Vive dizendo que vai largar o traste e não larga nunca. Apanha dele todo dia, vive cheia de mancha roxa, mas diz que tá ficando cega, veia e que aí vive caindo, se batendo nos moves da casa, e lá em casa não tem move nenhum. Eu, vivo mais fora de casa. Agora, que tou mais veio, tenho 16 anos e já posso me virar sozinho. Quando tiver condição vou pegar minha irmãzinha mais nova e vou fugir. É. Tá aí. Acabei contando. Tou farto dessa vida moço. Tou com 14 anos e tou com vontade de sumir. Ninguem gosta da gente. Ninguem nos óia. Todo mundo tem nojo da gente. Todo mundo se desvia da gente. Outro dia uma moça vinha em minha direção, quando ela me viu, com essas roupa que cheiram mal ela desviou de mim, passou de cabeça baixa, e aquilo moço, doeu.

Por que, por que, que a gente é assim? Eu queria saber o que foi que eu e meus irmão fez prá gente ter uma vida assim. Você sabe me expricar? Posso te chamar de amigo? Eu nunca tive um amigo. Eu não sei nem o que é isso.

Meu amigo...palavra bonita...o que é ser amigo?
Ah! Entendi...É aquele que escuta a gente ... obrigada!
Tu é meu amigo, mas, me exprica. Tu não tem nojo de ficar perto de mim?
Por que? Como? ...Descurpe...eu queria só entender como tu pode tar junto de mim, sem torcer o nariz...

6ª Entrevista
- Olha moço, eu não sou da rua, eu vivo na rua porque eu tenho casa. Mas prefiro tar na rua.

Por quê? Porque eu não gosto do meu pai. Ele vive bêbado, minha mãe é outra cachaceira. Alem disso, usa drogas.

Quantos anos eu tenho? KKKK...Adivinha! 14 anos. Assim, eu prefiro tar aqui na rua. Me junto com os meu colega e aí a gente joga bola, sai por aí, pega uns baguios prá nóis usar e vender.
É isso mesmo, cigarro, pedra.

Qual deles uso? Tudo. O que tiver na hora. É muito bom. A gente sai dessa vida. Ah! Eu prefiro tá aqui dormindo nem que seja no chão. Não tou nem aí para as pessoa que passa e olham a gente com cara de medo, até me divirto vendo o medo nos óios das pessoas, dos que se desviam da gente.
Banhar? Que banho o que? Mas de vez em quando, quando o corpo coça muito eu procuro um balde de água por aí, tem sempre uns aí nessas casas dão água prá gente se a pedir...Tem gente que, não sei se por medo ou porque são bom...

Ah! Sabe, encheu! Tou de saco cheio já disso. Eu vou pegar meus bagulhos prá ter dinheiro ´prá comprar comê...kkkk...isso também que tá pensando...Não tem nenhum dia que posso viver sem um cigarro ou uma pedra... Ou cola prá cheirar... Tou indo.

7ª Entrevista
- Meu nome é .................... Tenho 23 anos. Tenho uma casa. Sim, tenho. Mas sempre me droguei. E todos no bairro sabem que sou ladrão, mas não mexem comigo.

Por que? Porque não mexo com ninguém que vive aqui. É.

Por que? Simplesmente porque eles não fazem nada contra mim. Aqui tenho amigos. É. Parece mentira, não é? Mas a verdade é que muitos aqui me viram crescer, me drogar, sempre souberam que eu tiro as coisa dos outro, roubo, mas não fazem nada comigo. Pelo contrario, se puderem, muitos me defende.

Ah! Sabe que eu faço pequenos trabaio prá alguns aqui? É, são capaz de deixar tomando conta da casa. É moço.

Se eu já fui preso? Hum, não tem nem conta. Sou preso, passo mês e mês preso, mas sou solto.
Sabe por que? Porue eu deduro. É. Quem vacila comigo, tendo chance, eu deduro. E muitos aqui sabem que eu deduro mesmo. Não, eu não faço nada prá eles na rua, não brigo, vivo minha vida. E sabe de uma coisa, eu nem sei como ainda tou vivo! Já era prá ter morrido. Já apanhei de poliça. Duns cabra mitido a machão. É, porque me neguei a falar de um chapa meu. É, eu sou assim, se o cara nunca fez nada prá mim, eu não deduro, não faço nada. Sou capaz de apanhá. Mas se fez, pode contá que vai tê troco. E aí? Bom, eu apanhei mas me safei. Tô vivo. Já tou veio. É, os menino todo que são da minha época, colega meu, tão tudo morto. Ora, eu me drogo , roubo longe, me safo...Sou um cara até esperto. Vivo duente. É, mas sabe que já butei em mim, água de esgoto? Kkkk...É...já fiz tanta loucura!

Se eu tenho família?. Sei lá. Sempre fui sozinho. Nem me lembro se tive alguém morando comigo.
Muié? Rapaz eu tenho umas transas por aí, mas tudo muié que veve que nem eu... Quer saber de uma coisa? Eu tou querendo assossegar.

Você sabe me dizê cumo posso me aposentá? Tou falando serio...me encostar...kkkk...é, eu queria parar com essa vida de tá roubando...Não consigo mais correr como antes, minhas força já não é mais a mesma. Outro dia, quase que iam me pegando. E hoje o povo tá mais violento. Antigamente era só poliça que batia na gente, hoje o povo se reúne e bate, lincha, e as vezes o cabra acaba murrendo...
Sabe, eu tou indo...acertei um negócio por aí e tenho que ir...tá na hora... Até...Tem um dinheiro aí? Não, não vou tomar de vc...kkk...lembra?

Aqui , no meu bairro, nas redondeza eu não roubo...kkkk...tu não é meu inimigo...pode ficá descansado que por aqui ninguém vai mexer com vc.
Vc é meu chapa.

8ª Entrevista
- Olha moço, eu não sou da rua, eu tenho casa. Mas prefiro tar na rua. Por que?

Porque eu não gosto do meu pai. Ele vive bêbado. Minha mãe ´outra cachaceira. Uso drogas de tudo que é espéce. Quantos anos eu tenho? 15 ANOS.

Assim, eu prefiro tar aqui na rua. Me junto com os meu colega e aí a gente bate uma bola, fuma um baseado, sai por aí prá vender uns baguios.

É isso mesmo: cigarro, pedra de crack, cocaína,...o que tive. E se eu já experimentei? Kkkk...eu e muito...e é bom, muito bom!...Quer experimentá? É de graça. Mas só esse.

Bom, voltando lá pru assunto da minha saída de casa, eu prefiro tá aqui, durmindo até no chão. Não tou nem aí. Depois que eu fumo, cheiro meus bagulhos, o mundo pode caí. Eu morro pru mundo. Tudo some. Não tou nem aí pras pessoa que passa pela gente com cara de medo, que se desvia da gente, prende a bolsa no peito, como se isso fosse impedi de nós tomar... a gente se quisé consegue ...Banhar? Ah! De vez em quando. Tá bom. Chega! Eu vou pegá meus baguios prá consegui dinheiro prá comprar cumê. Oia, se tu quisé eu consigo umazinha boa prá tu,...não qué?...Sabe que muitos parecido com teu jeito procura nóis prá cumpra droga?...Tá bom, já falei demais.

9ª Entrevista
Você quer bombom? Um cigarro? Não?

- Tá bom. O que quer saber? Minha idade? 18 ano. Desde quando tou na rua? Desda 14 ano. Fugi de casa. Por que?

Meu padrasto é muito mau moço. Ele batia na gente. E ainda por cima, de vez em quando a polícia ia lá em casa atrás de um irmão meu que é ladrão.

É moço, desde cedo se acostumou a tirá as coisa dos outro.

Lá em casa já não tinha quase nada e e o pouco que tinha, roupa, calçado, panela, ele pegava prá vendê. Prá que? Prá comprá droga.

Meu pai? Não sei nem quem é. Vivia só nóis 3 , já não prestava. E aí minha mãe arranjou um namorado, esse que eu digo que é meu padrasto, aí a coisa piorou. O cara é um peste. Ruim mermo. Ele é tão ruim, que sabe o que ele fazia com uma irmã minha? Eele só tinha 8 ano. Passava a mão nela. Se minha mãe sabia? No começo não. Mas depois ela pegou ele fazendo isso e aí brigou foi com minha irmã. Que ela tava se oferecend . Imagina! Minha irmã com 8 ano de idade! Deu tapas nela. Meu padrasto? O bicho é tão ruim continuou e continua lá.

E aí resolvi fugir. Minha mãe só acredita nele. Batia em nóis por quarquer coisa. A minha irmã?

Acho que ela tá viva, se não morreu de apanhá de minha mãe e do home dela.

Oia moço, você já sabe de tudo. Não , não vou mais respondê nada, e só quer que eu fale. Pergunta que só!. Tchau.

10ª Entrevista
- Ei moço! O que quer?

Você quer fazer moço? Não?

Não, escute você. Eu faço todo jeito. Não aqui. Ali tem um quartinho. É, eu dou uns trocados pru meu colega. Tu não quer mermo? Prefere menino? Esse meu colega é viado. Boiola. Ele gosta de homem. É da minha idade. 22 ano.

Não, eu faço amor, sexo com quarquer um, até com outra muié.

Não, eu vevo assim derda os 8 ano. Quem me trouxe prá essa vida? Adivinha. Minha mãe. Prá que? Prá ter dinheiro, ora. Prá ter como comprar comê. Ela disse que tava muito veia e que já não agradava mais ninguém que pudesse pagá meio.

Me ofereceu primeiro prum veio que ia lá em casa. No barraco da gente, na invasão. Lá só mora drogado, prostituta e ladrão. Gente dereita não fica lá. A minha mãe faz o que? Sei lá. Acho que ela rouba. Finge que é muié dereita, procura emprego em casa de famia. Depois que tá lá, rouba as partroa. Não, não de uma vez, vai tirando as coisa aos pouco. Mas sempre acaba sendo descoberta. É, os patrão dela descobre e aí despedem ela ou chama poliça.

Depois que apanha um bucado, é sorta. Vorta prá casa e faz tudo de novo... Ela? Não se arrepende não. Disse que Deuso fez a gente assim. Entonce tem que viver tirando dos outro. Mas, agora, disse que tá muito conhecida. Assim, eu tenho que fazer isso. Se eu vorto prá casa sem dinheiro, ela briga, me bate, xinga e aí é um deus nos acuda. Se eu quero outra vida? E tem? Prá mim? Mas, como moço? Vê, eu já não tenho mais nem quase dente.

E eu tenho só 22 ano. Olha moço, eu apanho mermo eu fazendo tudo que o freguês quer. Não, eu não quero outra vida, porque sei que não é para mim. Minha mãe diz que eu vou morrer fazendo isso. Porque nessa vida a gente só tem isso prá fazer...A única cosa que eu não quero fazer é robar. É. Isso jurei prá mim merma não fazer. Não sou ladra. O resto eu faço. Sim, quando posso, compro e vendo droga.Eu só uso maconha. E aí eu me diverto. Com quem tiver. É bom, a gente atura meior o que o freguês quer com nós.

Olha, eu tenho que ir. Tenho um freguês esperando eu. É um veio conhecido meu. Ah! E ele é poliça. Kkkk...Ele gosta de eu. Kkkk...de eu e do meu colega. ...tchau

11ª Entrevista
- Ai moço, você quer que eu conte minha estória? Prá que?

Tá bem. Conto um pouco. Meu nome é .................... Tenho 23 anos. Faz 10 anos que venho prá rua. Não. Eu tenho casa. Mas tou cheia daquele povo, que só quer venha a nós e vosso reino nada. Só chupa olho. Além de tudo, todo dia tem briga. O pai briga com a mãe, todos os dias vivem querendo se matar. Lá na invasão todo mundo rouba. Vive entrando nos ônibus prá roubar bolsa de velho, novo. Relógio, pulseira, celular.

A gente já apanhou da polícia várias vezes. Olha moço eu sou pobre, preta, o que você quer? É. Quando os homem chegam, eles não quer saber quem é corpado ou não. Todo mundo apanha. E aí eu quase morria uma vez e aí decidi só ir prá casa a noite já bem tarde. O que eu faço na rua? Simplesmente roubo, vendo bagulho, faço tudo. Faço sexo com quem aparecer e lógico quando dá, levo a carteira do otário.

Não, eu não tou nem aí. Faço qualquer lugar.

Em pé. Na praça, num canto escuro, no chão, nas praças.

Por quê? Porque só faço sexo com gente que tem medo de se ver com nós. Olhe só prá mim. Eu vivo com esta roupa e aí não vai atrair ninguém, a não ser gente pobre, mas que pafa qualquer trocado por uns carinhos.

Mas o que faço mais mesmo é roubar celular. Gente que passa falando, distraído, eu vou e pego. É o que mais me faz sorrir. Eu pego e vendo. Prá que eu que eu vou querer celular? Só prá vender ou trocar por drogas. Olhe aí meu dedo tão carcomido todinho, Mas nem ligo.

O que eu gosto? É de cheirar cola. É bom, passa a fome na hora. A gente esquece comida. É isso. Tá bom. Agora eu vou. Meu colega tá me chamando. Deve ter conseguido alguma coisa.

Considerações
Todas as pessoas entrevistadas fazem parte da facção denominada Bonde dos 40.

As condições que os entrevistados colocaram para dar as entrevistas foram:
Anonimato garantido, a não utilização de datas e nomes e que a transcrição dos depoimentos fosse feita de forma romanceada.



Aguarde a divulgação na integra da pesquisa feita no bairro Coroadinho. É de arrepiar os cabelos.

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